Esse é um filme importante porque lança luz a um período obscuro da nossa história brasileira que é a ditadura militar – enquanto muitos querem esconder e apresentar uma versão, Wagner Moura quis colocar em tela grande e acrescentar mais um ponto de vista. Importante também porque esse é o filme em que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) mais teve seu nome amplificado, isso por aumentar suas camadas de exigências, alterando as datas de lançamento e quase inviabilizando a exibição no circuito comercial do país.

Devo dizer que é um filme necessário nesse momento em que olhamos para o momento atual do Brasil e discutimos sobre censura, democracia, engatinhamos nos conhecimentos sobre política e vemos o passado de forma embaçada, como se não existisse mais que a última década.
É polêmico porque vai de encontro ao que pensa, fala e executa o atual presidente da república. Porque traz um homem negro interpretando o protagonista – uma vez que sempre acompanhamos o embranquecimento nos cinemas.

O Marighella de Wagner Moura não é um herói canonizado, suas falhas, inseguranças e envolvimento em situações que normalmente são consideradas moralmente inaceitáveis, podem ser vistas desde a primeira sequência do longa.
O filme engrandece a luta por um Brasil livre, a força juvenil, abraça o hino nacional e a bandeira, parece se encarregar de trazer de volta um sentimento de patriotismo à nação.

Há forte presença da igreja católica, cenas de tortura, temos uma atuação convencente de Bruno Gagliasso como Lúcio, representando os delegados do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Uma participação pouco explorada de Adriana Esteves, a atuação emocionada de Humberto Carrão e temos a Maria Marighella que brilha em uma cena ao relembrar o amor do seu avô pelo Brasil.

Há muita ficção, mas Wagner estava certo, nunca foi um filme sobre um terrorista, é um filme sobre amor, lealdade e patriotismo. Seu Jorge ser negro é um detalhe diante da profundande que ele já consegue passar ao interpretar um pai, marido amoroso e líder apaixonado pela ideia de liberdade e de um futuro diferente.
Os diálogos são tão atuais que soam assustadores e parecem querer imprimir a realidade de lá nos dias atuais, é tudo tão próximo que ficamos confusos.

Eu gostei muito, fiquei bastante emocionada.
Durante as últimas semanas vi muitos vídeos, entrevistas sobre o lançamento, alguns com críticas muito duras, outros muito impactados.
Claramente não é um filme com opinião unânime.
Por isso escrevo isso para te convidar a ir ao cinema e ter suas próprias conclusões.
Talvez você volte e discorde de tudo que escrevi aqui e isso será ótimo, mostra que você leu até aqui ao ponto de saber o que penso e também que possui opinião pessoal diante de vários conteúdos.