
O silêncio e delicadeza de ‘Sempre em frente’ (C’mon, C’mon) preencheu meu vazio. Assisti-lo é como, por um breve momento, poder soltar as cordas da vida que seguramos com tanta força para ter a ilusão de controle.
Johnny é um documentarista que viaja por várias cidades perguntando a crianças e adolescentes o que esperam do futuro – nesse caminho, ele precisa cuidar do sobrinho Jesse (Woody Norman) enquanto Viv (Gab Hoffman) mão dele, parte para resolver um problema com o marido. A dupla de tio e sobrinho começam a estabelecer uma relação familiar mais profunda que mudará a vida dos dois.
Esse é daqueles filmes em que ao vermos a jornada do personagem ela se entrelaça à nossa. Tão bom que o preto e branco da fotografia, mas ainda assim ele está lá e serve para dar mais dramaticidade às tomadas silenciosas da cidade e aos diálogos.
Sempre em frente apresenta a relação distante de Johnny com sua irmã Viv e também com Jesse, assim como a reconstrução da proximidade e intimidade da família. Uma teia de amor que deixa todos entrelaçados por sentimentos que nem sempre são entendidos, mas que existem e precisam ser revelados.

Não há firulas, plots, grandes dramas ou mesmo um ponto alto do filme, ele segue linear, tranquilo e entremeado por diálogos ora dele com as crianças, ora dele sozinho em seu estúdio.
Nele, conforme os dois conversam, a vida se revela. As dúvidas, lembranças, a solidão, os medos e os pensamentos em relação ao próprio futuro.
Quando lançado, o diretor Mike Mills (Toda forma de amor) foi bastante elogiado, agora que vi, posso concordar com eles. É um filme que sabe se aproveitar do silêncio para dar espaço de reflexão, aquele cinema para fazer a respiração acalmar e o cérebro ter minutos de paz.

Mills consegue entregar um longa cativante sem cair na armadilha do drama familiar ou ainda dos relacionamentos amorosos ou mesmo da solidão, coisa que se preciso fosse, Joaquin Phoenix estaria pronto, pois é perito.
Sempre em frente é uma belíssima crônica de como as atividades aceleradas do dia a dia podem nos tirar os olhos da convivência com pessoas importantes, dos detalhes e principalmente, de nós mesmos.