Clube da meia-noite

Série: Clube da Meia-noite (2022)

Meus olhos se abriram para vê-lo em setembro de 2021. 

Era uma noite comum até que adentrei a Ilha Crockett e me tornei oficialmente envolvida com Missa da meia-noite, série que logo reconheci ser um ponto fora da curva, um cristal, a qual considero o seu melhor trabalho de Mike Flanagan até agora.

O brilhantismo dos trabalhos de Flanagan não esteve atrelado ao terror recheado de sustos, mas por um terror que usa o manto de religiosidade e fanatismo cego para amedrontar e nos dar um sentimento de repulsa quando vemos personagens como o da freira Bev (Samantha Sloyan).  

Os elementos escolhidos nos conduzem a um mistério, ajudam o espectador mergulhar nos seus próprios conceitos de certo e errado, do bem e do mal, incentivam o amor e a ojeriza a determinados atos em um misto de sentimentos e questionamentos que beiram o existencialismo – outro ponto que vale ser muito ressaltado é essa conexão quase filosófica que os diálogos agregam nas narrativas. 

Série: Clube da Meia-noite (2022)

Dito isso, estava claro que seu novo trabalho inegavelmente geraria expectativas.  

Embora o mítico, mágico e religioso ainda se mantenham como cerne das suas obras, Flanagan agora está em novas águas, a produção criada adentra o universo juvenil e investe nos sustos, característicos dos filmes de terror que já conhecemos. 

Suas marcas já vistas em Residência Hill (2018) e Mansão Bly (2020) dos longos planos sequência e closes durante os diálogos mais profundos são deixados de lado, mas ele ainda consegue manter seus monólogos – só que agora mais superficiais. 

Sua característica religiosa também permanece, agora mais focada em Sandra (Annara Cymone), uma adolescente ‘gospel’ que acredita que sua cura só poderá vir de Deus, assim como no ceticismo de Spencer (William Sumpter), um jovem gay que foi deixado pela família conservadora que não o aceitava.

Em Clube da Meia-Noite (The Midnight Club), Mike Flanagan se inspirou no livro de Christopher Pike e nos apresenta Ilonka (Inam Benson), uma adolescente cheia de sonhos que descobre uma doença e desesperada pela cura acaba descobrindo sobre Brightcliffe, um local que abriga adolescentes em estado terminal, ela decide que é lá que quer passar os dias que ainda tem. Ilonka segue movida pela esperança de ficar curada assim como uma antiga paciente que alcançou essa graça misteriosamente. 

Série: Clube da Meia-noite (2022)

Sem grades, poucas visitas familiares, sem câmeras ou qualquer vigilância na madrugada, os jovens de Brightcliffe correm pelos corredores para se encontrar “secretamente” em uma sala onde contam histórias, a partir da meia-noite, que revelam fragmentos do passado e desejos do presente. 

Embora haja o enfermeiro  Mark (Zach Gilford – em uma participação muito especial que rende um dos diálogos mais aproveitáveis da série), não nos gastamos em momentos de tratamento, nem com grandes trocas de pacientes, boa parte do tempo estamos imersos nas histórias que os oito personagens nos contam, uma forma enfadonha de contar suas dores antigas e o que os levou a serem tão amargos ou a chegar no ponto atual de suas vidas. 

Série: Clube da Meia-noite (2022) – Ilonka e Kevin

Há ainda uma tentativa de relacionamento de Kevin (Igby Rigney) e Ilonka (Benson), além de Natsuki (Aya Furukawa) e Amesh (Sauriyan Sapkota), que acontece enquanto eles contam suas histórias, esperam a cura e sobrevivem aos acontecimentos e rituais assombrosos de Brightcliffe. 

Clube da meia-noite parece ser sobre um grupo de pessoas que diante das notícias traumáticas prefere inventar boas histórias para passar o tempo, consegue isso em uma temporada de oito episódios que podem ser vistos na Netflix. 

Série: Clube da Meia-noite (2022) – Amesha e Natsuki

Particularmente, achei cansativa a estrutura da série, a necessidade de recorrer aos flashbacks, às constantes rodas seja por terapia em grupo, para conversar ou para contar histórias pseudo-assustadoras. Poucos episódios conseguem cativar a atenção, assim como também não considerei os personagens carismáticos, mas devo dizer que resisti bravamente e assisti até o final. Não é sua melhor apresentação, mas diante da trajetória construída, a tentativa de Mike Flanagan de respirar novos ares não pode passar despercebida. 

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