
Como pode existir gente com tanto talento?
Fico tão deslumbrada que me falta tempo para ficar ressentida.
Quando assisti a atuação incrível de Gero como Levi em Aldeota filme que ele escreveu, produziu, dirigiu e atuou, fique assim, meio bestificada desde os primeiros minutos.
Gero (Bicho de Sete Cabeças, Carandiru) nos entrega uma história e uma atuação repleta de emoções como o falante, poético, engraçado, hiperbólico Levi que deseja coisas como “comer o sol”, tamanha a sua ingenuidade – parece um ser saído dos poemas de Manoel de Barros.
Somado a isso temos Marat (2 Coelhos, Maysa: Quando Fala o Coração) que consegue entregar graça e garantir ainda mais cumplicidade à dupla, nas telonas.
Aldeotas é – inicialmente – uma peça teatral escrita pelo dramaturgo Gero Camilo, o espetáculo tanto sucesso fez graças a sua narrativa, a brilhante performance dde Gero Camilo nos palcos, que recebeu o Prêmio Shell e ficou em cartaz por mais de uma década até finalmente se tornar filme.

Acompanhamos Levi (Gero) e Elias (Marat Descartes), dois amigos que se conhecem desde a infância, mas acabam se separando por 17 anos, quando primeiro foi embora da pequena e provinciana cidade para um maior, mais adequada aos seus desejos. O distanciamento foi brusco. Elias havia planejado tudo e na última hora desistiu. O filme narra o reencontro.
Durante o longa, as transições acompanham ano a ano a adolescência dos dois, indo desde o primeiro beijo até a despedida. Ainda acredito que o filme tenha muitas características teatrais, exigindo do público mais imaginação e dos atores muito mais entrega, mas repito, saí arrebatada pela atuação de Gero e pela beleza da amizade de Levi e Elias.
Há uma cumplicidade entre os dois que nos faz realmente entender a profundidade da amizade da dupla e a importância das memórias contadas.
Levi é diferente, em determinado momento Elias o confronta ao dizer que “na cidade é diferente, na cidade eles aceitam mais esse tipo de coisa”, por suas características mais despojadas, emocionadas e amorosas.

Aldeotas é um ode a verdadeira e preciosa amizade, uma nostálgica e melancólica volta no tempo de quem precisou regressar cheio de saudade depois de muitos anos longe de casa.
Um filme que vale a pena ser visto.
“Aldeotas”, de Gero Camilo, chega dia 17 de novembro aos cinemas brasileiros.