BABYLON

Entrei na sala de cinema com uma estrutura de texto que percorreria a trajetória de filmes do diretor Damien Chazelle, mas mudei isso com o passar das horas. 

O longa ‘Babilônia’ tem 189 minutos, compreende as décadas de 1920 a 1950, a transição do cinema mudo para o falado – que teve como primeiro filme O cantor de jazz (1927), dirigido por Alan Crosland. 

A primeira meia hora seduz o espectador com uma sequência de orgia, corpos nus, fetiches, algumas frases de efeito e a apresentação dos personagens principais. Tudo acontece sem que a banda pare de tocar, uma forma acertada de mostrar que em Hollywood, não importa o que aconteça, o show tem que continuar. 

A obsessão, típica dos personagens já vistos em Wiplash e First Man, dessa vez repousa sobre o próprio diretor.  Damien Chazelle se debruça sobre o passado para mostrar uma Hollywood promíscua, capitalista e gloriosa. 

Para alcançar isso ele usa como fio condutor a vida de Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma bela jovem que busca ascender na vida, Jack Conrad (Brad Pitt), um ator famoso e mulherengo, e Manny (Diego Calva), um mexicano encantado pelo cinema e que faz da sua gentileza um tripé para crescer nos sets. Todos estão em busca de algo que se perpetue,  que seja importante, que tenha significado. Ninguém quer ser esquecido. 

Chazelle não tem a mesma mão dos Daniels (risos) e acaba se perdendo em tantas informações, como consequência nos restam personagens sem profundidade.  Uma conflituosa história cheia de erotismo quando ainda vigorava o código de Hays, o desejo de  mostrar que pessoas ficam marcadas na história, enquanto retrata a efemeridade. 

Há excesso de closes no rosto de Manny na tentativa forçada de mostrar o deslumbre dele, representante dos mortais, com a magia do cinema, ainda há uma homenagem que preguiçosamente se passa quando Manny depois de uma louca sequência quatro andares abaixo da realidade no qual temos a desperdiçada participação de Tobey Maguire em uma sequência totalmente descartável e absurda, retorna, tem a vida transformada, uma rápida aproximação com o seu ser amado e odiado, Nellie, e então sofre a terceira reviravolta da sua vida.

Teve cobra, jacaré e elefante, o último é o único que se justifica. O filme é um verdadeiro show drogas, sexo, álcool, caos e EXCESSOS. 

Em um universo que há tanto a ser explorado, Chazelle pareceu querer abraçar tudo e sua ambição faz um dos filmes mais aguardados da temporada despencar como estrela cadente, tal qual as do filme. 

Há momentos adoráveis? Claro! 

As festas, o amor pelo cinema, as dificuldades das filmagens, da transição de fazer isso sendo mostrada no momento em que Nellie precisa filmar mais de 10 vezes uma mesma cena, as irresponsáveis mortes nos sets, a mudança nos roteiros, a exigência de profissionalismo, um pouquinho do conservadorismo social e do assédio, o espaço para negros, asiáticos, mexicanos. 

Há ainda dois momentos realmente tocantes: a conversa entre Elinor St. John (Jean Smart) e Jack Conrad (Brad Pitt) e a última gravação de  Sidney Palmer (Jovan Adepo).

Abro espaço para dizer que meu personagem preferido foi galã Conrad. Com uma vida conturbada, muitos casamentos e mais de 80 filmes gravados no cinema mudo, ele não se adaptou ao cinema sonoro, a decadência chegou quando sua beleza já não era suficiente e seu talento se tornou desnecessário.  

Quando Conrad vai até a jornalista Elinor para confrontá-la por algo que não gostou, assistimos a uma cena em que repousa toda a ideia do diretor, um quase monólogo com uma mensagem atemporal que atesta que Hollywood é uma máquina de luxúria, esmagadora e deixa pelo caminho todos aqueles que já não combinam com seu tempo, mas o cinema, esse viverá nas memórias de todos aqueles que amam essa arte. 

Já me aproximando do finalzinho desse texto, devo dizer que assim como The Fabelmans de Steven Spielberg e Nope de Jordan Peele, Chazelle quer espaço para mostrar seu amor e admiração pela sétima arte com o seu Babylon

Quem se saiu melhor? Não vou usar uma régua para medir os esforços de cada um. Tenho minha própria organização para o pódio, mas me alegra que nesse pós-pandemia quando ficamos tanto tempo longe, haja um ode a essa arte que nos comove, desperta, anima, traz empatia e salva. O cinema é vivo.

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