TÁR

O diretor Todd Field escolheu o recorte dos bastidores machistas, sujos e baixos da música clássica baseada na vida da maestrina Lydia Tár.

Tár (Cate Blanchett) faz o perfil controlador, perfeccionista e workaholic, sabe os esforços que fez para alcançar o sucesso, reconhece seus méritos e impedirá quem entrar em seu caminho tentando dizer o contrário.

Mas o longa também abre espaço para conhecermos as conflituosas relações pessoais que ela nutre com sua assistente, esposa e filha. Tár parece um monstro solitário, é fria e distante, seu personagem foi moldado desde os figurinos aos diálogos, para fugir das características como gentil e feminina, ela parece movida por interesses pessoais, egoísmo e pela subserviência de todos os demais.

Em um filme com quase TRÊS HORAS de duração, ela chega a citar o pioneirismo da maestrina Antonia, fazer caras e bocas que revelam sua fúria e descontrole em muitos momentos, mas destaco a cena em que ela discute com um jovem aluno do conservatório, ele levanta um debate atual, emergente, o qual não é respondido mas nos deixa com uma questão em mente: como separar o artista da obra?

Na discussão, o aluno afirma não gostar das composições de Bach e aponta motivos que permeiam a vida pessoal do compositor, rebaixando toda sua contribuição à música. Nos primeiros minutos, a discussão só faz sentido para mostrar o conhecimento e a capacidade de humilhar de Tár, mas se encaixa perfeitamente com o dilema da artista que esconde o medo de ver seu talento e conquistas ofuscados pelo seu passado obscuro.

Até certo ponto, poderia dizer que é reparação histórica ver uma mulher ocupando cargos importantes e descartando pessoas, mas ao olhar mais atentamente, vemos que é opressão, assédio moral e sexual, um tripé que abre caminho para a queda de uma gênia.

Na era pós mee too, Tár cai como uma bomba revelando o lado sujo das relações opressoras femininas, mas nenhuma ambiguidade em relação ao longa podem arranhar a performance de Cate Blanchett que está formidável em um filme frio e tecnicamente impecável.

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