John Wick: Baba Yaga

Na cena que homenageia o western, do jeitinho que conhecemos, com cavalos, pistolas, deserto e sob um forte sol, John Wick (Keanu Reeves) seguia para para a resolução de um conflito que é o estopim de toda a narrativa de Baba Yaga, enquanto eu repetia mentalmente “GRANDIOSO, GRANDIOSO”.

Banido da Alta Cúpula,  agora sob o controle quase absoluto do Marquês (Bill Skarsgård), e com o preço cada vez mais alto para sua cabeça, Wick enfrenta consequências por seus atos, mas pagará o preço que for preciso para ter a sua liberdade. 

Pausa para explicar que John Wick é o homem, a lenda é Baba Yaga, algo no qual se tornou ao longo dos quatro filmes e que o Marquês chega com uma missão: apagar qualquer rastro da existência dele na terra.  

John Wick é um verdadeiro epicentro. Tudo o que toca, se aproxima e ama, atrai catástrofes. Nesse quarto longa ele já não tem mais esposa ou um cão para se apegar, mas ainda há algo pelo qual vale a pena lutar e não abrirá mão, que é a  sua liberdade. 

Mas o tempo passou, as leis continuam rígidas, só que algumas coisas mudaram, agora quem manda em tudo é Marquês de Margot (inspirado nos Bolts de Game Of Thrones – só pensei nisso). Seu poder é tão grande que em determinado momento ele ganha close, no qual até Paris é desfocada para demonstrar isso. O gerente Winston (Ian McShane)  também não está mais na direção do hotel Continental de Nova York.

Quem assiste os três primeiros filmes em sequência percebe o quão curto é o tempo de uma situação para outra, mas o próprio diretor esclareceu a questão temporal, os três primeiros filmes da franquia se passam num intervalo de três semanas e o quarto em um intervalo de seis meses. 

Tendo dito isso, abro espaço para elogiar o trabalho do diretor Chad Stahelski, que por sorte vem dirigindo desde o primeiro longa da franquia e também do roteirista Derek Kolstad, o criador de toda a história do personagem.

Chad poderia ter feito apenas um filme de acrobacias e pancadaria, mas não é isso que nos apresenta. As cenas de ação são longas, com poucos cortes, variação de cenários, uso de espadas, armas e pistolas, carros, motos, cavalos. 

A estética é grandiosa, feita para mostrar a opulência do filme, do submundo dos poderosos e isso se expande a cada novo ambiente, tendo várias cenas rodadas em Paris. Nesse quarto filme tudo parece maior, mais belo, artístico. 

É inegável a atmosfera de exclusividade que se propaga pelas festas grandiosas em cenários de luxo. Enquanto os meros mortais dançam, há sempre algo de mais reservado e importante acontecendo. O luxo também está presente nos ternos alinhados e no comportamento de todos da Alta Cúpula. Nesse submundo que nos deixa como meros voyers de um nível diferente, há regras claras para assassinos poderosos. 

Ainda temos um presente, um plongée absoluto, estilo que  também pode ser visto em Django Livre (Quentin Tarantino), e que eu me lembre, vi mais recente em Kimi: Alguém está escutando (Steven Soderbergh).

A condução é agradável com a entrada orgânica dos personagens secundários que possuem histórias que facilmente ganhariam ramificações como o brilhante Caine (Donnie Yen), Senhor Ninguém (Shamier Anderson) e a Akira (Rina Sawayama), além das pausas e silêncios que nos permitem saborear a tensão entre os diálogos. 

Vale destacar que há algo de novo, temos a inserção de breves momentos que nos trazem o riso, um flerte com o alívio cômico bem no meio das cenas de tensão, coisa rara de encontrar na franquia.

JOHN WICK 4 – BABA YAGA

A partir daqui é provável que se seguir lendo eu deslize e entregue algum spoiler, então é melhor deixar para seguir depois que assistir ao filme, ok?

Seguimos. 

Embora com poucos diálogos, algo característico do personagem que é resiliente, focado, mais introspectivo, Wick continua seguro no carisma de Keanu Reeves e pelos valores, pelo caráter que fica explícito nas inúmeras oportunidades que possui de matar quem atravessa o seu caminho e ele escolhe se o fará.

Leal e obstinado, ele não é o tipo tagarela, não possui amigo tagarela, não está em bando, não tem parceira, não tem nerd da cadeira, nem super poderes e se você olhar bem, ele tem apenas uma coisa: desejo de vingança e ainda assim ele age não destila ódio, nem faz promessas infundadas e quando diz algo, cumpre, pareceria ter sido refinado do melhor das jornadas dos heróis que conhecemos. 

Lealdade é algo que merece ser ressaltado na história dele, visto que que não está presente apenas na relação com a esposa, com o cachorro ou com amigos, mas de Winston e o concierge e uma irmandade que se mostra a cada nova estreia da franquia.

Wick é o personagem mais lealmente construído, não por acaso, é aliado a um cachorro, conhecido como o amigo do homem e que não apenas reside no imaginário popular, mas é que o cinema faz questão de reforçar o companheirismo desse animal em vários filmes (Marley e Eu, Lembranças de outra vida, K9, Sempre ao seu lado, Meu cachorro Skip, Meu amigo Enzo). 

Por valorizar demais a lealdade, Wick sofre os maiores golpes naquilo que ele mais investe, a amizade.

Dia desses, quando aconteceu a Maratona Megapix de John Wick, eu e meu amigo conversávamos que o mundo contra John Wick  parecia ser páreo, já que ele suportava tanta coisa. 

Nesse quarto filme ficou claro que é possível ele enfrentar o mundo, mas sofre assim como nós, mortais, que caímos pelo golpe dos nossos, dos que estão perto. O mundo não pode ferir John Wick, mas um amigo sim. 

Se eu te cansei com o texto emocionado e enaltecedor, é porque é muito bom a gente encontrar um filme que se exceda e transcenda as nossas expectativas.

Deixo aqui o trailer para você assistir:

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