
Muitas vezes, quando a vida não é cansativa e desfrutamos de muita solitude, desconhecemos a solidão e o que para muitos é silêncio e tédio, para outros é uma agradável rotina.
Em “Lucky”, acompanhamos a jornada de Lucky (Harry Dean Stanton), um sujeito destemido, engraçado e de língua afiada, que aos 90 anos leva uma vida pacata em uma pequena cidade. Ele frequenta diariamente o bar, encontra algumas amizades, toma café no mesmo lugar e mora sozinho, ouvindo música, fazendo exercícios e cozinhando todas as manhãs.
Tudo muda quando ele sofre uma queda, que não causa nenhum dano permanente, mas afeta a forma como ele vê a vida. Há um despertar espiritual e só então vamos conhecer mais sobre a vida dele e o que será no depois. O filme, ao mesmo tempo que o apresenta como um velho caubói fumante, valente, forte e determinado, tal qual os que estamos acostumados a ver no velho oeste, também aborda a quebra dos estereótipos do homem que não se envergonha ao dizer que caiu, mas que se sente constrangido ao revelar temores.

Uma das cenas mais engraçadas é quando Lucky convida um rapaz para brigar e diz que 40 anos antes não aceitaria um não, mas é alertado que 40 anos antes o seu oponente estava usando fraldas. A cena mostra que mesmo aos 90 anos, mais fragilizado e com o emocional abalado, Lucky não perdeu o vigor para lutar pelo que acredita, mesmo que seja fisicamente.
Embora não saibamos exatamente em que cidade estamos e qual é o seu tamanho, subentendemos a pequenez do local e a atmosfera do western pelo figurino, pelo cenário da casa, as repetidas idas ao café e ao pub, pelo encontro sempre com as mesmas divertidas pessoas e pelo cuidado que todos têm com Lucky. Ali todos se conhecem, o que fica claro em um diálogo quando recebe uma visita inesperada.
Há muito mariachi e parceria, elementos que fazem do filme uma obra que reúne humor, drama e reflexão.

Um ponto interessante a ser destacado é que o longa fala sobre a morte sem ser pesado, e traz uma reflexão sobre a finitude da vida fica ainda mais forte considerando que o ator Harry Dean Stanton faleceu no mês de lançamento do longa, setembro de 2017, aos 91 anos.
Em suma, “Lucky” é um olhar sensível sobre a vida e a morte, que nos faz refletir sobre a finitude da vida e a coragem necessária para enfrentar esse desfecho fracassado. Dirigido por John Carroll Lynch e com a participação de David Lynch, o filme foi lançado em 2017 e é uma obra imperdível para quem aprecia personagens marcantes e profundas reflexões sobre a existência humana.
