Realidade nos 10 primeiros minutos, realidade nos outros 20, 2h de realidade.
O longa conta a história de Moonee, uma garotinha de no máximo uns 9 anos, que vive com a mãe em um hotel barato à beira da estrada, não se sabe se são as causadoras ou as vítimas da situação a qual estão expostas.
Moonee é muito mais esperta que muita menina aos 20. Criada de forma “livre” logo aprende a se virar e é a líder das crianças do local. Um espaço pobre, sujo e marginalizado.
Sean S. Baker dirigiu o longa com a maestria de quem queria e conseguiu fazer o espectador sentir um incômodo a cada palavrão, cada atitude irresponsável daquela que deveria agir como mãe, cada momento em que faltou segurança, limites. A garotinha chata e rebelde dos primeiros minutos vai nos comovendo com os passar do tempo e ganhando ares de vítima.
Bobby (William Dafoe) faz o papel coadjuvante que pode representar alguns de nós: resguarda certa integridade, incomodado, disposto a ajudar no que der, sem saber como, sem se meter demais, sem querer problemas, sem querer culpa, sem poder muito, sem ter tantos direitos.
A crítica social é tão pesada que a cena final nos faz inclinar a cabeça, querer esconder o rosto, questionar o que nós poderíamos fazer para dar um outro caminho para mãe, filha ou qualquer um que nos apareça diante dos olhos.
Bastardos na cidade em que nasceram. Não são ricos, não são turistas, nem vivem nos melhores bairros. Filha de pais separados, mãe sem estudo e sem emprego. A irresponsabilidade social por parte do Estado, a imaturidade materna, o excesso de liberdade infantil e a linha tênue entre o que poderiam ser apenas brincadeiras perigosas ou o início de uma delinquência infantil.
Quem foi criado com o mínimo de educação conservadora, se preocupa com saúde, ética, higiene, respeito, segurança e educação, certamente se sentirá muito incomodado com a abordagem do drama.
O filme retrata uma aguda desigualdade social, na qual as crianças nascidas na Flórida convivem com a prostituição e o tráfico em condições precárias e nunca conheceram o famoso e colorido mundo da Disney. O som diegético de helicópteros\aviões sobrevoando a cidade, muito provavelmente carregando mais turistas, aparece pelo menos 3 vezes.
The Florida Project é um filme seco, com diálogos fortes, belas interpretações (tanto que rendeu indicação na categoria Melhor ator coadjuvante para William Dafoe) tomadas da câmera em ponglée e as sutilezas de algumas cenas no momento em que o pequeno Dicky é obrigado a abrir mão de seus brinquedos em mais uma das inúmeras mudanças de endereço ou quando Moonee procura sua amiga para se despedir e traz o desfecho do filme em uma cena linda em contra ponglée.