O jeito irônico de contar a controversa história da ex-patinadora e ex-boxeadora Tonya Harding em ritmo acelerado no filme te faz não querer tirar os olhos da tela. Não ver é perder.
‘Eu, Tonya’ se mostrou um filme sem mocinhos ou vilões. Filmado no estilo mockumentary” (um falso-documentário que mistura histórias fictícias com acontecimentos reais), o longa dirigido por Craig Gillespie vem cheio de cenas de quebra da quarta parede, os diálogos com excesso de ironia e sofre com momentos TOTALMENTE nonsense.
A personagem principal, interpretada por Margot Robbie, cresceu com dificuldades financeiras, familiares e relacionamentos difíceis. O que é o amor para você? Para Tonya, que sofreu abusos psicológicos, ele é turbulento e sofrido.
Em determinada cena ela aparece apanhando daquele que ama e acha que isso pode ser uma demonstração de amor e traz a seguinte linha de pensamento ” mãe me bata porque me ama. Então ele me ama”.
Tonya sofre da falta de amor crônica, aquela que traz a insegurança, excesso de carência, culpa e a necessidade de estar junto, algo como “antes com o boy lixo que não acompanhada”.
Ao mesmo tempo, ela sabe que tem um dom, que patina muito acima da média, investe bastante tempo nisso. Porém, seu retorno é baixo, não por falta de talento, mas por falta do estereótipo considerado adequado para representar seu país. Tonya não segue os padrões sociais mais aceitáveis e por isso sofre a marginalização.
A mãe, LaVona Harding, interpretada por Allison Janney (concorrente ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), parece que se tornou ruim de tanto que se esforçou para ser má e dar um futuro à filha, coisa que ela afirma que não teve porque foi muito mimada.
Margot Robbie é o grande trunfo do filme. Concorrente ao Oscar 2018 na categoria melhor atriz, consegue dar voz e expressão a uma mulher forte e carente, louca e sofrida, gênia e por diversas vezes ingênua. No final, talvez Tonya seja uma vítima dos próprios tropeços.
As cenas de apresentação fecham no rosto de Robbie em um contra plongee e depois abrem em uma panorâmica depois voltam a se concentrar nos pés da patinadora. O estilo Old também ajuda na fotografia.
Tonya não ganhou um filme pelo seu talento, nem por ter sido a primeira americana a fazer um triplo Axel nas Olimpíadas, ela também não ganhou nenhuma Olimpíada.
Infelizmente seus acertos não pontuaram e ela só ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly e seu amigo tentaram incapacitar sua colega Nancy Kerrigan, quebrando o joelho dela durante as Olimpíadas de 1994.
Se Tonya sabia de tudo, compactuou ou desejou, não sabemos. A história, que se tornou um circo pela imprensa sensacionalista, é controversa, talvez por isso tenha rendido um filme.